O sucesso de uma empresa está intimamente ligado à forma em que sua diretoria executiva e seu conselho administrativo atuam. Definir as prioridades corretas, planejar e saber lidar com os desafios da atividade empresarial no dia-a-dia são características essenciais para a longevidade de um negócio.
Foi pensando nessa mudança no perfil da comunidade de investimentos que Bill McNabb, Ram Charan e Dennis Carey, três grandes referências mundiais em gestão estratégica e liderança escreveram o livro “Talento, Estratégia, Riscos”.
A comunidade de investimento tem dados sinais claros de que não é mais aceitável um modelo de gestão que visa apenas o lucro a curto prazo dos acionistas. Sendo assim, a atividade acionária tem ganhado novos contornos: criar valor no longo prazo deve ser o foco de toda diretoria executiva e de todo conselho administrativo.
A métrica que combina o preço da ação e os dividendos, também conhecida como Retorno Total ao Investidor (TSR, na sigla em inglês), não possibilita manter o curto e o longo prazo em equilíbrio.
Os autores que atuam na vanguarda dessas mudanças ao lado da comunidade de investimentos, conselhos corporativos e equipes de alta gestão sugerem um novo índice de avaliação do sucesso de uma empresa. Ou seja, um novo TSR.
Neste artigo, você vai conhecer um pouco mais sobre o novo TSR sugerido pelos autores, assim como mais detalhes sobre essa obra que vem revolucionando o mundo da gestão corporativa.
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Mudanças na comunidade de investimentos
O mercado de investimentos, apesar de parecer dinâmico com os fechamentos diários da bolsa e com os balanços trimestrais, ainda possui agentes conservadores quanto à governança corporativa.
Dessa forma, essas medidas fizeram com que por muito tempo a prioridade de diretorias executivas e líderes empresariais fosse o curto prazo, tendo o TRS como máxima para métrica de valor de uma empresa.
Não à toa, Bill McNabb, um dos autores do livro, em 2010 durante um evento de governança da universidade Drexel ao sugerir que os conselho deveriam se engajar com investidores de longo prazo irritou toda a plateia do evento composta por diretores executivos (CEOs, na sigla em inglês) de diversas empresas.
Atualmente, mais de 200 CEOs da Business Roundtable, uma associação que reúne as maiores empresas norte-americanas, contestam a ideia de privilegiar o acionista.
A BlackRock, por exemplo, maior empresa de gestão de projetos e investimentos do mundo, demanda que todas as empresas de seu portfólio apresentem planos de criação de valor a longo prazo.
Ram Charan, outro autor do livro “Talento, Estratégia, Riscos”, em sua atuação como consultor ajudou gestores, diretorias, conselhos e líderes a repensar e redefinir práticas de governança corporativa. O autor observou uma lacuna crescente entre o foco dos conselhos e os interesses dos investidores.
Além de um grande contraste entre os conselhos dos diferentes tipos de empresas. Já Dennis Carey, como vice-presidente da Korn Ferry, ajudou a reconstituir conselhos e recrutar CEOs para atender as novas tendências do mercado.
Dessa forma, os três autores combinaram os seus anos de experiência em conselhos executivos e na comunidade de investimentos para demonstrar as mudanças que as empresas precisam fazer, tanto na prática, quanto no planejamento para atender as modificações do mercado financeiro.
O TSR e sua influência na governança negocial
Para o mercado de investimento o sucesso de uma empresa pode ser medido através de seu retorno total ao acionista (TSR, em inglês: total shareholder return). Ou seja, a variação no preço das ações somado aos dividendos acumulados ao longo do tempo.
Sendo assim, analistas financeiros, investidores ativistas e a imprensa especializada pressionam para que o preço das ações de uma empresa aumentem em um curto prazo de tempo, caso isso não ocorra a empresa, segundo eles, perde potencial de mercado.
Isso faz com que conselhos e gestores priorizem as atividades destinadas ao aumento do valor em um curto prazo de tempo. Porém, diferentemente do que prega setores conservadores do mercado, o foco no TSR não garante o sucesso de uma empresa.
Apesar de sempre buscar o retorno total, as companhias continuam tomando decisões equivocadas que prejudicam os acionistas.
Os principais motivos que levam a essa situação são: falta de visão, inconsistências e foco em metas erradas. Por isso, é hora das empresas direcionarem sua atenção a uma nova métrica de sucesso empresarial.
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Talento, estratégia e riscos: o novo TSR
A melhor forma de gerar retorno total ao acionista, tendo em vista o capital permanente e a criação de valor a longo prazo, é focando em talento, estratégia e risco – o novo TSR proposto pelos autores do livro.
A mudança do foco consiste em 3 etapas principais:
- Primeiramente é preciso atrair os talentos certos. Dessa forma, é essencial que os líderes façam uma boa gestão de pessoas, para que seja possível mapear as que eles querem que fiquem nas empresas e que evoluam com elas.
- O segundo passo é criar uma estratégia que alinhe a empresa com os interesses dos investidores de longo prazo, não com as expectativas do mercado.
- Por último, assumir, no nível de conselho, todos os riscos que podem impedir a execução da estratégia.
A transição para o novo TSR começou com os investidores. Isso porque os fundos de índice passaram a assumir um papel mais ativo na governança corporativa.
Tais investidores passaram a procurar saber como os conselhos lidam com:
- As principais funções corporativas;
- A seleção do CEO e da equipe de liderança;
- As possibilidades de fusão e mudanças na empresa;
- Os riscos e crises.
Em outras palavras, os investidores estão focados em analisar os talentos, a estratégia e os riscos, tanto para proteger as empresas como para aumentar seu valor.
Como os autores concluíram que é necessário alterar o TSR?
Os autores perceberam que aumentar o valor para o acionista não passa de um resultado que a empresa quer os gestores querem produzir. Com isso, eles concluíram que a tríade talento, estratégia e riscos engloba todo o trabalho de uma empresa.
Sendo assim, o novo TSR é uma ferramenta que as empresas podem usar para fugir da distorção que a prioridade do valor a curto prazo gera. E, assim, passar a dar atenção para a geração de valor a longo prazo.
Caso a empresa consiga executar bem o novo TSR, o almejado retorno total aos acionistas será uma consequência natural. Essa abordagem funcionou com enorme eficácia na Vanguard, empresa em que Bill McNabb trabalhou.
Embora seja uma empresa de investimentos, a Vanguard é bastante complexa, possui mais de 18 mil funcionários divididos em escritórios no mundo todo, que operam bilhões de dólares. Charan, Carey e McNabb também atestam que as recompensas do novo conceito de TSR não se restringem aos ganhos de mercado.
De acordo com eles, os conselhos podem ajudar a criar uma medida melhor do valor para o acionista: um crescimento a longo prazo que beneficiará tanto os acionistas quanto a sociedade como um todo.
A despeito dos ativistas que insistem no modelo de valor a curto prazo, hoje em dia, investidores institucionais que representam de 50% a 60% das ações das 500 maiores empresas norte-americanas estão exigindo que os conselhos atuem como um contrapeso a essa visão míope de curto prazo.
O livro “Talento, Estratégia, Risco” apresenta a visão desses investidores e apresenta as melhores práticas para que os conselhos agilizem seu trabalho para atender a esse amplo espectro de acionistas.
Sobre os autores
Conheça um pouco mais sobre os autores dessa obra que mudou a visão dos investidores sobre as prioridades na gestão corporativa.
Bill McNabb
Bill McNabb é bacharel pela Faculdade Dartmouth, tem MBA pela Faculdade Wharton da Universidade da Pensilvânia. Foi presidente do conselho e CEO da Vanguard. uma das maiores empresas de gestão de investimentos do mundo.
Entrou na Vanguard em 1986 e tornou-se CEO em 2008 e presidente do conselho em 2010. Aposentou-se como CEO em 2017 e como presidente do conselho em 2018. Durante seu mandato como CEO, os ativos sob a gestão da Vanguard mais que quadruplicaram, chegando a US$4,4 trilhões.
McNabb é um grande defensor da boa governança corporativa e do investimento responsável de longo prazo por meio de cargos de liderança em organizações como a Chief Executives for Corporate Purpose (CECP) e o Investment Company Institute.
McNabb também tem uma grande atuação em programas acadêmicos como o:
- Instituto de Governança Raj e Kamla da Faculdade de Administração de Empresas LeBow da Universidade Drexel;
- Centro para Mercados Globais e Responsabilidade Corporativa Ira M. Millstein da Faculdade de Direito da Columbia; e ,
- Centro de Liderança e Gestão da Mudança da Faculdade Wharton da Universidade da Pensilvânia.
Bill McNabb é membro do conselho UnitedHealth Group, IBM, Axiom e Tilney Smith & Williamson. E, também, é presidente do Comitê de Auditoria Independente da Ernst e Young.
Ram Charan
Ram Charan é consultor, autor, professor universitário e palestrante. Passou os últimos 40 anos trabalhando com CEOs, conselhos e executivos seniores das melhores empresas do mundo.
Ele é conhecido por simplificar as complexidades administrativas de um negócio no atual ambiente de rápidas mudanças e fornecer soluções práticas altamente acionáveis. Charan deu coaching a diversos líderes que se tornaram CEOs e orienta muitos outros programas internos de educação corporativa.
Dentre os prêmios de ensino que Charan recebeu destacam-se dois:
- Prêmio Bell Ringer do Instituto Crotonville da GE; e,
- Prêmio de melhor professor da Universidade Northwestern
A revista BusinessWeek incluiu Ram Charan na lista dos dez principais instrutores de programas internos de desenvolvimento executivo.
Os 30 livros de sua autoria e coautoria já venderam mais de quatro milhões de exemplares, foram traduzidos para mais de doze línguas. Em 2005, Charan foi eleito um Distinguished Fellow da Academia Nacional de Recursos Humanos.
Ele foi membro da Comissão Blue Ribbon do Comitê de Governança da Associação Nacional de Membros de Conselhos Corporativos, tendo atuado em uma dúzia de conselhos de administração nos Estados Unidos, Brasil, China, Índia, Canadá e Dubai.
Em 2010, Ram Charan foi nomeado pela NACD Directorship, a revista oficial da Associação Nacional de Membros de Conselhos Corporativos, como um dos “Directorship 100”, as pessoas mais influentes na área da governança corporativa e nas salas dos conselhos.
Dennis Carey
Dennis Carey é vice-presidente do conselho da Korn Ferry. Liderou programas de sucessão de CEOs e programas de engajamento do conselho do conselho em empresas como:
- Ford;
- Tyco;
- 3M;
- Humana;
- AT&T; e,
- GSK.
Carey também conduziu programas de atualização do conselho em várias empresas da Fortune 500, uma lista que inclui as 500 maiores empresas dos Estados Unidos.
Na área das fusões e aquisições, Carey ganhou fama por integrar novos talentos e reduzir os riscos culturais decorrentes dessas complexas transações. Dennis mede o sucesso pelo desempenho dos talentos ao longo do tempo e seu impacto no retorno de longo prazo para os acionistas.
Em 1999, fundou a CEO Academy para fornecer um curso intensivo de atualização de dois dias para CEOs de longa data, CEOs mais recentes e potenciais sucessores. A CEO Academy é filiada desde 2017 à Faculdade Wharton da Universidade da Pensilvânia.
Carey ministra cursos de governança na Faculdade Wharton desde 2015. Foi agraciado com bolsas de pós-doutorado nas Universidades de Princeton e Harvard. Atualmente, Carey atua no conselho de administração da Nexii, uma empresa de tecnologia da construção verde sediada em Vancouver.
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