Entenda o que é neuroplasticidade e como ela pode te ajudar a superar desafios

Entrevistamos Adriana Fóz, mestre em Ciências pela Psiquiatria e Psicologia Médica, para discutir a neuroplasticidade. Confira!
Neuroplasticidade: paciente em terapia

Você sabe o que é neuroplasticidade? Conheça também as principais competências emocionais, que por meio de treinos pode promover a neuroplasticidade e saiba como essa capacidade pode ajudá-lo a lidar com situações difíceis!

De modo geral, a neuroplasticidade diz respeito à capacidade cerebral de se reconfigurar e criar novas conexões. Assim, ela é fundamental para o nosso aprendizado, e para que possamos nos adaptar aos diferentes contextos.

A neuropsicóloga Adriana Fóz explica que esta característica nos acompanha pela vida inteira. Na obra “Como lidar com as frustrações”, lançada pela Benvirá, ela faz uma ponte entre os saberes das neurociências e as situações desafiadoras do dia a dia de todas as pessoas.

Por exemplo, como superar uma frustração? Ou também como lidar com a desregulação de certas emoções, como a ansiedade.

Neste artigo, você vai conferir uma entrevista exclusiva com Adriana Fóz. A autora, mestre em Ciências pela Psiquiatria e Psicologia Médica da Unifesp, vai explicar o que é neuroplasticidade, como ela pode ser treinada e também fornecer dicas práticas para o seu desenvolvimento pessoal. Boa leitura!

O que é neuroplasticidade?

Adriana Fóz — Neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro tem de se adaptar, de se reconfigurar e criar novas conexões. O conhecimento sobre esta característica do cérebro  é importante não só para quando buscamos superar uma frustração ou se autorregular diante uma crise de ansiedade, mas para todas as áreas da nossa vida.

A neuroplasticidade acontece basicamente em 3 instâncias: quando nos desenvolvemos, quando aprendemos e quando nos reabilitamos. [Ela] acontece em algumas grandes níveis: físico, cognitivo e emocional.

Do ponto de vista físico, a neuroplasticidade é importantíssima quando temos uma lesão, por exemplo. Seja uma lesão “porque eu quebrei o meu pé, ou porque eu tive um AVC…” Essa característica dá a condição para o cérebro poder se reorganizar e se recuperar.

Do ponto de vista cognitivo, a gente pode reconfigurar ou criar novas conexões. Por exemplo, uma pessoa deseja aprender uma nova língua — ela pode, por meio de uma série de especificidades, promover a neuroplasticidade, para que ela possa aprender ou reaprender.

Do ponto de vista emocional, por exemplo, as pessoas que passam por um estresse pós-traumático, por exemplo, podem se recuperar, a partir da reorganização ou da criação de novas conexões.

Vou lembrar de um acontecimento recente: as Olimpíadas. A gente vê exemplos muito incríveis de como a neuroplasticidade pode fazer super atletas, ou melhor, como super atletas podem ampliar as suas capacidades de aprender, de melhorar, se superar a partir de vários fatores, claro.

Do ponto de vista neural, o que acontece ali é essa possibilidade do cérebro estar sempre aprendendo, se remodelando e podendo ser cada vez melhor dentro dos limites naturais.

A [ginasta] Rebeca [Andrade], que coisa incrível! Ela mostrou uma competência plástica não só do ponto de vista emocional, como cognitivo e físico. Não só se superando, como também superando a melhor do mundo. Então, esse é um exemplo bonito de esforço, trabalho duro, talento e do cérebro  plástico.

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Como treinar a plasticidade cerebral?

Adriana Fóz — A gente “treina” o nosso cérebro, não literalmente, pois ele não é um músculo para ser treinado. Masl, podemos treinar suas funções e capacidades.

Para manter um bom funcionamento do cérebro, e do nosso organismo de modo geral, a gente precisa também de uma boa qualidade de sono, uma boa alimentação, descanso e cultivar técnicas meditativas. Ou seja, é preciso dar uma paz para o nosso cérebro de maneira ativa, por exemplo, por meio da atenção plena.

Além da estimulação por meio de desafios: aprender coisas novas. Ter interesse por novas aprendizagens também promove muito a neuroplasticidade e outros fatores que geram saúde plena.

Muitas vezes, a gente vê: “ah, use essa técnica x” ou “compre essa coisa y”, para aumentar a sua neuroplasticidade. Não, na verdade a plasticidade é bastante complexa, pois nosso cérebro age de forma muito integrada.

O que é mais robusto em termos de aplicabilidade deste conceito, é a busca pela manutenção de uma vida saudável para que nós possamos manter a qualidade das conexões cerebrais — sejam das novas conexões ou das reconexões.

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Como a neuroplasticidade pode ser “ turbinada” para melhorar a saúde mental das pessoas?

Adriana Fóz – Vamos supor que eu esteja bastante triste porque eu queria viajar e não pude, por questões financeiras. Mas eu estava esperando por isso, eu estava muito cansada, querendo dar um tempo de tudo. Você queria essa viagem, para bem longe, para que você conseguisse esse descanso, esse presente para você.

A primeira coisa é a gente identificar qual era a nossa expectativa, o que a gente queria: eu esperava viajar. Depois, como eu não pude viajar, fiquei triste e frustrada.

Isso vai me abater emocionalmente. Se eu não trabalhar bem essa situação, isso pode desencadear até uma depressão, ou um transtorno de ansiedade. Claro que são vários os fatores que precisam estar juntos e misturados para gerar quadros assim. Mas estas são questões envolvidas.

O ponto mais importante é que você pode utilizar de competências emocionais e treiná-las também. Por exemplo, a competência da resiliência — que é a capacidade que a gente tem de se modificar, sem perder a essência, a nossa integridade.

Eu queria viajar para fora do Brasil, não pude, mas eu posso falar o seguinte: “bom, de que outras maneiras eu posso viajar?”.

O que eu estava buscando? Eu queria descansar, passear, conhecer novas coisas. Também posso fazer isso perto da minha cidade. Posso fazer trocas comigo mesma, posso fazer combinados. E talvez deixar essa viagem para um outro momento”.

Isso é uma maneira proativa da gente lidar com as nossas emoções. A gente pode treinar nossas competências emocionais e tentar também lidar com as adversidades com uma postura proativa, também do ponto de vista cognitivo.

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Quais são os exercícios que estimulam a neuroplasticidade?

Adriana Fóz — O mais interessante, é que acontece um pico de neuroplasticidade justamente em momentos de adversidade e de estresse tolerável. Muitas vezes, há um aumento da capacidade de neuroplasticidade.

A gente pode aproveitar momentos desafiadores, momentos que nos demandam mais para crescer, mudar de caminho. Por exemplo, uma pessoa que estava muito tensa, desgastada em seu emprego: de repente, ela pode propor algo diferente, ir para outra área, ou mudar de emprego.

Ou seja, tem uma série de outros caminhos que a gente pode utilizar em meio a uma situação tanto de adversidade, quanto de maior estresse.

Qual a idade de maior plasticidade cerebral?

Adriana Fóz — As fases mais potentes de neuroplasticidade são nos primeiros anos de vida. Temos alguns momentos bem reconhecidos pela ciência de neuroplasticidade, como logo após o nascimento, depois na primeira infância, depois na adolescência.

Nós sempre teremos um cérebro plástico, porque é uma característica dele. Porém, quanto mais jovem nós somos, mais facilidade, mais possibilidade tem o cérebro de exercitar, de usar essa característica da plasticidade.

Como podemos utilizar o conceito de neuroplasticidade para lidar com a frustração?

Adriana Fóz — A neuroplasticidade é uma característica do nosso cérebro, que a gente pode turbinar, potencializar com a qualidade de vida e também com boas respostas emocionais.

Ou seja, eu tenho um treinamento interno de que sempre, diante de uma situação que envolve questões emocionais, eu vou primeiro perceber a emoção, depois eu vou identificá-la e, por último, manejá-la.

Este é um conceito que eu intitulei de “PIM”: eu percebo, eu identifico e eu manejo. A gente não vem com esse hábito, com esse HD já formatado, a gente vem com a possibilidade para o aprendizado. Então, precisamos criar o hábito, se motivar, ter disciplina, perseverança, resiliência.

Assim como todas as competências que são descritas no livro “Como lidar com as frustrações”. Durante a leitura você encontrará as competências descritas em 4 clusters, assim como as conectivas, pois elas conectam pessoas.

Depois tem as competências restaurativas aquelas que vão nos recuperar,por exemplo, das decepções. Temos quatro grupos, que totalizam 14 competências. Todas elas são possíveis de serem desenvolvidas por nós. Independente de quem somos, independente da nossa idade.

São competências muito potentes, depois de serem desenvolvidas e treinadas, para que possamos alcançar nossos objetivos. Não apenas os objetivos de superar uma frustração, mas também de evitar uma frustração e outros.

Histórias de pessoas reais: como podemos transformar frustrações em crescimento pessoal?

Adriana Fóz — Eu gosto muito da competência da coragem. Porque falar em coragem é muito mais do que não ter medo, é ter uma atitude, apesar do medo. Nesse sentido, eu achei bonito o exemplo de uma surfista que, inclusive, foi intitulada de Mulher Coragem.

Trata-se de uma surfista brasileira chamada Maya Gabeira. Ela faz um esporte de risco, porque ela surfa ondas maiores do que prédios. E um dia ela teve uma queda que quase a levou à morte.

E o que ela fez? Ela tinha várias alternativas: “não vou mais surfar”; “vou ficar com raiva do surfe”; “não entro mais na água”… nosso cérebro é cheio de opções. Mas a escolha dela foi enfrentar o medo de uma nova onda que pudesse ser parecida com aquela que a levou a ter a queda. (…)

Ela, depois de um ano, entrou no mesmo mar. Óbvio que depois de muito treino, de muito trabalho mental, emocional… Ela conseguiu se superar buscando vencer ,apesar do medo, exercitando a sua coragem.

Como podemos treinar as competências emocionais?

Adriana Fóz — Vamos pensar no exemplo da coragem. A gente pode treinar essa competência sendo otimista. Otimista não é ver tudo cor-de-rosa. Ser otimista é ver as coisas difíceis, mas escolher dar mais atenção para aquilo que é bom, que faz bem.

Outra dica para o treino da coragem é a gente identificar os nossos medos. Como eu falei, coragem não é ausência de medo. É você lidar com o medo. É você perceber que está com medo, identificar que é medo, e conseguir caminhos de domar este medo.

Depois, a gente pode pensar nas ações, refletir e fazer escolhas. Não é pensar demais, nem refletir demais, nem deixar de fazer a escolha. É você fazer esse movimento ser natural.

Outra dica é a gente entender que nem sempre precisamos usar a coragem. Nem sempre a gente precisa ser corajoso para tudo. A gente pode expressar a nossa fragilidade, que também é uma força, também é humana.

Partindo dessa ideia, uma dica é a gente se aceitar como vulnerável. De repente, a Maya [Gabeira], seis meses depois do acidente dela, poderia dizer: “eu tô muito vulnerável, eu não tenho condições de enfrentar o mar de novo”. E tudo certo, porque, naquele momento, ela foi de acordo com a verdade dela. Mas ela não desistiu, ela alterou rotas para buscar aquilo que ela queria.

Conheça o livro “Como lidar com as frustrações”, de Adriana Foz

Ficou interessado em saber mais sobre a relação entre o nosso funcionamento cerebral e o enfrentamento dos desafios diários? No livro “Como lidar com as frustrações”, a neuropsicóloga Adriana Fóz expõe, de maneira detalhada, os processos mentais que são ativados quando nos frustramos.

A autora explica que, se conhecermos bem o funcionamento do nosso cérebro, podemos potencializá-lo, seja para superar frustrações, ou regular emoções. Ilustrando a obra com histórias reais, ela mostra como as competências emocionais podem funcionar como ferramentas para encarar situações difíceis.

Em suma, “Como lidar com as frustrações” une informações científicas e dicas práticas em uma leitura leve, para todos que desejam manejar melhor suas emoções.

Esperamos que você tenha gostado desta entrevista com Adriana Fóz sobre a temática da neuroplasticidade. Continue no nosso blog, e confira a nossa seleção de livros de desenvolvimento pessoal!

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