Qual é a importância de uma história? Desde a nossa juventude, estamos cercados pelas pequenas narrativas cotidianas para aprender a interpretar o mundo e nossas relações. Seja através de livros infantojuvenis, seja por meio de exemplos e memórias passadas pelas nossas famílias, a habilidade de nos identificarmos com uma história nasce e morre conosco.
Ainda assim, não raro esquecemos que, para contar uma boa história, é preciso se dedicar a ela. Afinal, a melhor forma de estabelecer uma conexão com o leitor é entendendo-o como elemento central desse processo. Como afirma Jeffrey Eugenides, em uma de suas entrevistas:
Eu penso no leitor. Eu me importo com o leitor. Não com a “audiência”. Não com “os leitores”. Apenas o leitor. Aquela única pessoa, sozinha em uma sala, cujo tempo estou pedindo.
No universo da comunicação, a habilidade de construir uma história que toque o seu público-alvo recebe um nome próprio: storytelling. Neste guia, vamos te ajudar a entender o que é esse conceito, por que ele é importante dentro e fora da educação, como ele pode se estruturar e muito mais. Confira!
O que é storytelling?
O storytelling é comumente conhecido como a habilidade de contar histórias — esta é, inclusive, sua tradução literal: story (história) telling (contar; contando). Seu objetivo principal é criar uma conexão entre o texto e o leitor.
Esse conceito vem ganhando força sobretudo no marketing de conteúdo, uma vez que pode ser entendido como uma estratégia de venda. Mas a verdade é que ele é muito mais profundo.
Pense, por exemplo, na importância que uma simples história teve ao longo da sua vida. Ela não precisa ser sequer ficcional: pode se tratar de uma memória, um acontecimento importante, uma tradição passada pelas gerações da sua família. Pense em como uma narrativa “simples” impactou a pessoa que você é hoje, a sua jornada, até mesmo as decisões que você tomou.
Viu só? Agora você começa a compreender de verdade o storytelling. Mais do que uma narrativa ou uma história que vai vender um produto, essa estratégia é também uma maneira de transformar as vidas das pessoas leitoras. Seja criando uma conexão, seja transmitindo uma mensagem, o seu maior efeito é fazer com que você passe a ver o mundo com um olhar transformado.
Onde o storytelling pode ser usado?
O storytelling é uma técnica que pode ser usada em diferentes contextos, a depender dos objetivos de quem conta a história e das pessoas que vão lê-la. Por isso, ela assume diferentes papéis e também é construída de formas diversas, com o objetivo de estabelecer a melhor relação com o leitor.
Abaixo, separamos quatro contextos em que o storytelling pode ser usado, e também as maneiras como ele pode impactar na vida das pessoas leitoras. São eles:
- Marketing de conteúdo;
- Negócios;
- Consultorias; e
- Educação.
Continue lendo para conferir!
Storytelling e marketing de conteúdo
O marketing de conteúdo é, sem dúvidas, o lugar em que o storytelling se tornou mais conhecido. Afinal, essa área do marketing lida diretamente com a transmissão de informações e, em um mundo cada vez mais tecnológico e cheio de dados, é difícil fazer com que um conteúdo se destaque e apresente originalidade.
Nesse cenário, as técnicas de storytelling se tornam fundamentais. É com base nelas, por exemplo, que as empresas podem construir um melhor relacionamento com os seus possíveis clientes, além de:
- Garantir mais cliques em seus sites;
- Ter um diferencial para apresentar aos leitores, o que torna o negócio mais competitivo no mercado;
- Potencializar resultados.
No entanto, para fazer um bom trabalho com o storytelling, os responsáveis pela criação do conteúdo devem ter em mente dois pontos principais: a persona e o objetivo.
Entenda a seguir:
1. A persona
Uma persona é uma espécie de “cliente ideal”. Ela representa um perfil de consumidor construído de modo a oferecer para a empresa um maior contexto das pessoas que podem se interessar pelo seu serviço ou produto. Por isso, é construída através de uma extensa pesquisa de mercado e com base em diversos detalhes.
A persona é fundamental para o storytelling porque ela ajudará a determinar elementos como o tipo de mensagem, o tom de voz, as referências que podem ser usadas, os recursos visuais e sonoros, e mais. Isso acontece porque, para saber como contar uma boa história, é preciso entender, primeiro, para quem essa história será contada.
Imagine, por exemplo, que você venda videogames. A sua persona será muito mais jovem e dinâmica do que a de uma empresa que vende notebooks, afinal o seu produto tem como foco o lazer. Assim, as histórias contadas pela sua equipe de marketing de conteúdo precisarão fazer alusão a esse momento de descontração e relaxamento, esquecendo fatores como estudos e trabalho.
Com uma persona bem estabelecida, é possível construir histórias mais detalhadas e que criem uma conexão real com a pessoa que terá acesso a elas. Desse modo, as chances dessa estratégia funcionar aumentam consideravelmente.
2. O objetivo
Uma estratégia de marketing de conteúdo nem sempre é uma estratégia de venda, e isso também afeta a maneira como o storytelling será construído. Saber o seu objetivo com o marketing de conteúdo é fundamental para que as técnicas usadas no storytelling façam sentido para a pessoa que lerá o texto.
Pense, por exemplo, em alguém que deseja entender como funciona um videogame, ou por que este pode ser um bom investimento. Mais do que olhar ofertas de diferentes modelos, ela precisa de um conteúdo que apresente as vantagens desse tipo de atividade.
Assim, o storytelling não deverá ser construído de maneira a levá-la para o caixa — ou, pelo menos, não ainda. Na verdade, o foco será convencê-la de que aquele tipo de compra proporcionará diversão, bons momentos entre amigos ou uma tarde de domingo relaxante. E, uma vez convencida disso, só então essa pessoa buscará comprar de fato o produto.
Storytelling e negócios
O storytelling também pode ser uma estratégia usada por empresas para construir o seu negócio e vender os seus produtos e serviços. No entanto, assim como acontece no marketing de conteúdo, para que isso aconteça é importante ter em mente quem será a persona e quais serão os objetivos dessa história.
A diferença entre um storytelling focado em fazer crescer um negócio e outro com foco no marketing de conteúdo está, é claro, na maneira como esse texto será construído. Afinal, para aplicar o storytelling como uma estratégia de negócios, é preciso que ele faça parte da empresa de maneira mais abrangente.
O autor do selo Saraiva Uni, Felipe Morais, explica melhor a importância e o papel do storytelling nos negócios — especialmente aqueles que querem aproveitar ao máximo a transformação digital e construir empresas que se adaptam à tecnologia e às suas mudanças recorrentes. Você pode ler mais sobre o assunto nos seguintes livros:
Transformação Digital: como a inovação digital pode ajudar o seu negócio nos próximos anos
O livro Transformação Digital, de Felipe Morais, mostra como esse acontecimento vem sendo importante para as empresas. É verdade que, hoje em dia, os negócios já se preocupam em ter uma presença virtual através de blogs, sites, redes sociais etc. Mas como essa presença é trabalhada? Será que há uma estratégia real por trás dessas decisões?
O foco deste livro é apresentar os principais tópicos para tirar as dúvidas da pessoa leitora sobre o tema da inovação digital. Para isso, o material apresenta uma análise detalhada do futuro do varejo e das tendências do consumidor diante das transformações tecnológicas.
A pesquisa de Felipe Morais inclui, ainda, a apresentação de 40 macrotendências da transformação digital, sendo uma delas o storytelling. Por isso, é fundamental para os empresários interessados em preparar o seu negócio.
Planejamento estratégico digital – 2ª edição
Em Planejamento Estratégico Digital, o autor Felipe Morais explica por que o digital não é mais apenas uma tendência, mas um caminho sem volta. Além disso, auxilia o leitor na compreensão de técnicas e ferramentas que ajudam a seguir por essa nova estrada com maior preparo.
Depois de mais de 15 anos dedicados ao ambiente online, o autor colocou neste material os seus principais conhecimentos acadêmicos. Desde a apresentação de conceitos do marketing digital até a análise aprofundada de cada uma das “etapas” de construção do planejamento, o autor constrói uma guia de aprendizagem completa.
Um dos capítulos do livro é inteiramente dedicado ao conteúdo e, portanto, também ao storytelling. Por isso, para os interessados em compreender como essa técnica pode impactar positivamente os negócios digitais, este é um livro indispensável.
Leia também: Quais os melhores livros de contabilidade? Conheça 18 títulos
Storytelling e consultorias
As consultorias têm como objetivo auxiliar outras pessoas ou negócios a atingir suas metas de crescimento desejadas. E, ao longo desse processo, os profissionais devem conseguir combinar uma visão analítica com uma boa comunicação, para explicar com clareza quais ações devem ser tomadas e quais são os pontos de melhoria.
Nesse cenário, o storytelling aparece como uma estratégia que auxilia essa comunicação, tornando-a não apenas mais clara, mas também mais dinâmica. A partir das suas estratégias, torna-se possível explicar problemas complexos de maneira mais simples.
Para as empresas especializadas em consultoria, o uso dessa técnica se traduz em melhores atendimentos, por serem mais fáceis de compreender. Além disso, os clientes que buscam a consultoria podem ter uma dimensão melhor dos desafios de seus negócios e são capazes de tomar decisões mais assertivas.
Storytelling e educação
Quando falamos de “contar histórias” para transformar pessoas e criar com elas uma conexão emocional, é claro que não poderíamos deixar de lado o aspecto educacional desse processo. O storytelling na educação pode ser usado como uma maneira de transmitir informações de um jeito interessante.
Para professores que buscam inovar e manter a motivação dos alunos, usar as estratégias de storytelling pode ajudar. Além de ser uma forma de se conectar com a realidade dos estudantes, as técnicas auxiliam a construir uma sala de aula mais dinâmica, divertida e engajada. Dentre os benefícios observados, podemos citar:
- A maior absorção de conteúdos;
- O aumento do engajamento dos estudantes;
- A melhoria da relação entre professor e aluno.
Ao longo deste texto, falaremos mais sobre a aplicação do storytelling na Educação Superior. Além disso, você pode conferir mais detalhes sobre o assunto no livro Comunicação e Aprendizagem, de Armindo Ribeiro Ferreira.
Leia também: Desvendando os segredos do storytelling na educação
Qual é o objetivo do storytelling?
Como explicamos, o principal objetivo do storytelling é contar uma história que construa uma conexão emocional entre a pessoa que a escuta e a pessoa que a conta. Essa sensação é fundamental para que o público se sinta motivado a investir seu tempo e seu dinheiro em um produto ou serviço.
A construção de uma boa história também oferece uma série de benefícios para os negócios. Por exemplo:
- Transforma o conhecimento em algo significativo, emocional;
- Aumenta a empatia do leitor com outras pessoas;
- Aumenta a chance de compartilhamento;
- Permite uma melhor leitura e apresentação dos dados.
Nesse sentido, o objetivo do storytelling se traduz também na construção de uma relação mais próxima entre empresa e pessoas, de forma que os interesses e objetivos de ambas as partes sejam alcançados.
Quais são os elementos do storytelling?
Agora que você já conhece um pouco mais sobre o storytelling e as suas muitas aplicações, é provável que esteja se perguntando como começar a aplicar essa técnica. Porém, antes que seja possível colocá-la em prática, é fundamental conhecer os seus principais elementos.
De modo geral, poderíamos falar em uma “pirâmide do storytelling”, que se sustenta a partir de três pilares:
- Conteúdo;
- Técnicas narrativas; e
- Fluidez da história.
Para uma boa aplicação do storytelling, eles devem interagir de forma harmoniosa e bem construída. Observe:
1. Conteúdo narrativo
De modo geral, o conteúdo narrativo é o que torna a história viva. Ou seja: são os aspectos da história que fazem com que ela seja, enfim, uma história, capaz de prender o leitor e de torná-lo mais curioso com os rumos daquela narrativa.
O conteúdo narrativo é formado por três elementos básicos fundamentais. São eles:
- Tempo: quase toda história acontece em um momento do tempo, seja ele presente, passado ou futuro. E embora algumas histórias aconteçam “fora do tempo”, essa demarcação de “ausência” também é importante para que o leitor possa acompanhar a narrativa.
- Espaço: onde a sua história se passa? Quais elementos ela deve apresentar sobre a cultura e outros aspectos para que o leitor a reconheça? Nem sempre esse espaço será físico, mas é importante usar elementos reconhecíveis para que o leitor se localize.
- Personagem: quem vive a sua história? Quando pensamos em storytelling, sobretudo no mundo dos negócios, é comum que o personagem seja a persona daquela empresa, ou seja, o seu comprador ideal. Afinal, é para ele que a história é construída, e é ele quem deve sentir que a está vivendo. No entanto, em outras aplicações, um personagem ajuda o leitor a compreender os eventos narrados e, por isso, é essencial.
Ao construir o seu storytelling, fique atento a esses elementos. E você pode, se quiser, adicionar outros — como o próprio narrador.
Lembre-se, também, de que uma história deve ter começo, meio e fim. Para cativar o seu leitor e construir uma narrativa que faça com que ele se interesse de verdade, essa estrutura também precisa estar bem definida.
2. Técnicas narrativas
As técnicas narrativas representam a maneira como a pessoa que está contando a história (neste caso, o consultor, o professor ou o profissional de marketing) transmite as informações necessárias. Essas técnicas ditam o tom da história e os seus impactos em que a escuta.
Elas podem envolver questões que vão desde a perspectiva dos personagens e narradores até o tema abordado na história e a sua estrutura. Por isso, ficam a cargo do tipo de mensagem que deseja ser transmitida.
Pense, por exemplo, em um comercial que aposta em uma narrativa de terror. Para construir o suspense em que assiste à história, é preciso usar técnicas que corroboram com esse objetivo: o “susto” deve ser precedido de uma série de dicas que atiçam a curiosidade do espectador, aumentando a sua tensão. Para isso, podem ser usados elementos visuais e sonoros.
3. Fluidez
A fluidez, por fim, diz respeito à construção da história. Para que o storytelling funcione de verdade, é preciso que o leitor se sinta conectado àquilo que lê ou assiste. Por isso, a narrativa deve ser organizada de modo que os eventos se apresentem com harmonia.
Uma história truncada é sinônimo de um leitor confuso e, portanto, que tem mais chances de perder o interesse naquilo que deveria acompanhar. Torna-se mais difícil estabelecer uma conexão emocional real e, por isso, a estratégia deixa de ser assertiva.
Desse modo, vale a pena investir mais tempo pensando na estrutura da sua história e também nas técnicas narrativas que serão usadas. Afinal, esses elementos darão mais suporte para que a fluidez aconteça com naturalidade no texto ou na mídia escolhida.
Leia também: Confira o que é inteligência emocional, quais são seus pilares e como desenvolver!
Qual é a principal estratégia de storytelling?
Como vimos ao longo deste conteúdo, o storytelling diz respeito a uma narrativa que cativa e aproxima o leitor de uma marca, produto ou serviço. Por isso, não raro a principal estratégia para utilizá-la se baseia na construção de uma história capaz de prender o leitor por um longo período.
No marketing, essa estratégia é “emprestada” da literatura: chamada de “Jornada do Herói” — ou monomito —, ela é a estrutura identificada pelo pesquisador Joseph Campbell em diversos mitos e histórias clássicas. Dividida em etapas bem estabelecidas, ela possibilita que os 3 elementos do storytelling se articulem.
Abaixo, apresentamos cada uma dessas etapas, detalhando de que maneira elas ajudam a construir uma história. Confira!
Etapa 1: O mundo comum
Nesta fase, somos apresentados aos personagens da história e ao contexto no qual ela acontece. É nesse momento que conhecemos as principais características do protagonista e criamos com ele a conexão inicial, que será reforçada ao longo da história.
Etapa 2: O chamado da aventura
Aqui, o personagem se depara com um conflito que o tira da sua zona de conforto e o impele a encontrar alternativas para a sua situação atual. Diante de um problema, é necessário que ele pense em uma solução inovadora.
Etapa 3: Recusa ao chamado
Nas histórias, é comum que o protagonista não embarque no desafio imediatamente. Desmotivado pelo medo, pelos compromissos com as pessoas à sua volta ou simplesmente pelo conforto da sua realidade, ele opta por ignorar o chamado da aventura.
Etapa 4: Encontro com o mentor
É apenas quando o protagonista encontra outra pessoa que o chamado da aventura toma forma em sua mente. Esse outro personagem, em geral um mentor ou sábio, é o responsável por apontar para o protagonista a importância da sua jornada, bem como os benefícios que ela poderá trazer para ele e para a comunidade em geral.
Etapa 5: Cruzamento do portal
Nesta etapa, o protagonista da história enfim entra na aventura. O “portal” por ele atravessado não precisa ser real: basta a metáfora para que o leitor compreenda que, a partir daquele ponto da história, algo mudou. Dali em diante, o protagonista se transformou no herói.
Etapa 6: A barriga da baleia
E, é claro, como todo herói, precisará passar por provações. A etapa da “barriga da baleia” faz referência ao conto Pinóquio, quando o boneco de madeira e seu pai se encontram presos dentro da barriga da grande baleia branca. É uma situação que parece sem saída, um grande problema que precisa ser enfrentado de maneira criativa e corajosa.
Etapa 7: Aproximação
Em um primeiro momento, o herói tem êxito nas suas batalhas. No entanto, elas o cansam e fazem com que ele retorne a um sentimento de insegurança, semelhante ao do início da jornada, quando não se sentia capaz de atravessá-la. Por isso, essa etapa marca também um momento de reclusão e reflexão.
Etapa 8: Provação difícil
Por fim, o herói deve enfrentar o seu maior desafio. A provação difícil se apresenta em um momento de fraqueza e pode representar uma morte literal ou metafórica, ou seja, uma transformação absoluta do herói para que ele possa vencê-la.
Etapa 9: Recompensa
Uma vez transformado, o herói encontra suas forças e pode, enfim, vencer o desafio. Vitorioso, ele recebe uma espécie de presente — seja do sábio que o guiou até ali, seja do lugar onde houve a batalha.
Essa recompensa se traduz, também, em um novo conhecimento, e reforça que a jornada do herói ainda não terminou, afinal é preciso voltar para casa.
Etapa 10: O caminho de volta
O caminho de volta é a última etapa dessa jornada, e é marcado pelo retorno ao mundo comum do início da história. Ao longo dela, o herói não sente mais medo ou insegurança, sendo tomado pela sensação de dever cumprido.
É também nesse processo que pode definir como compartilhará os conhecimentos adquiridos com o seu povo, e imaginar como eles o aceitarão de volta.
Exemplo hipotético da jornada do herói no storytelling
Para exemplificar a estratégia que acabamos de apresentar, vamos pensar em uma empresa que trabalha com desinfetantes de banheiro e decidiu fazer um comercial para vender o seu produto.
No começo dessa história, o personagem está vivendo normalmente e decide ir ao banheiro (Etapa 1). Ao chegar lá, ele percebe um odor ruim, que o desagrada (Etapa 2). No entanto, porque já está acostumado a usar os mesmos produtos de sempre, pega o seu desinfetante genérico, acreditando que ele resolverá o problema (Etapa 3).
É nesse momento que ele escuta uma voz misteriosa. Do rótulo do nosso desinfetante, outro personagem, mais sábio, conversa com o protagonista e o alerta da ineficácia do desinfetante genérico (Etapa 4). Finalmente, ele decide testar o novo produto (Etapa 5).
Ao tocar na embalagem, é levado para um banheiro completamente transformado: adentra um campo com cheiro de capim-limão e se sente renovado. Na área reservada à privada, porém, encontra germes e bactérias que causam o mau odor, e precisa lutar contra elas (Etapa 6). Ele começa a batalha vitorioso (Etapa 7).
No entanto, em uma reviravolta, surge uma bactéria gigantesca, a maior de todas. Para vencê-la, é preciso usar uma arma-secreta: o desinfetante vendido! (Etapa 8). Depois de algumas borrifadas, ele enfim se torna um vitorioso completo (Etapa 9).
É, então, levado de volta para o seu banheiro tradicional. Segurando o novo desinfetante, o protagonista usa o produto, cheira o ambiente e abre um sorriso: fim do mau cheiro (Etapa 10).
Entendeu como o storytelling funciona? Essa estrutura de comercial não é inovadora, e você com certeza conseguiu pensar em algumas marcas que contam histórias parecidas, mesmo que usem produtos diferentes.
Com o auxílio de mais recursos visuais e sonoros, essa narrativa se torna mais poderosa, e o cliente consegue se conectar com ela — o que aumenta as chances de associar aquela marca a sensações positivas (como um cheiro refrescante) e, enfim, investir o seu dinheiro no produto ofertado.
Como aplicar o storytelling na Educação Superior?
Como explicamos no início deste texto, uma das aplicações do storytelling acontece na educação, com vistas a aumentar a motivação dos alunos e melhorar a relação entre estudantes e professores. Dentro de sala de aula, existem diversas estratégias de ensino que podem ser usadas para a construção de uma aprendizagem mais dinâmica e divertida, que foca também no desenvolvimento de competências socioemocionais.
Nesse cenário, as metodologias ativas ganham uma atenção especial. Afinal, elas têm como objetivo a descentralização do professor na sala de aula, dando maior ênfase aos alunos e ao seu processo individual e, muitas vezes, personalizado de construção da aprendizagem.
Graças ao uso de metodologias ativas, a técnica do storytelling se torna muito mais aplicável, e é possível observar com mais clareza os seus efeitos positivos. Para entender melhor qual é o papel dessas metodologias no storytelling e quais delas podem ser aplicadas, continue lendo!
Qual é o papel das metodologias ativas no storytelling?
As metodologias ativas são metodologias de ensino focadas em colocar o aluno como o principal agente do seu processo de ensino-aprendizagem. Ao romper com as metodologias tradicionais, elas permitem que os estudantes participem ativamente da construção do seu conhecimento, conectando o que é visto em sala de aula com as suas realidades particulares.
Apoiadas sobretudo nas tecnologias digitais, o principal papel das metodologias ativas no storytelling é proporcionar a construção de uma história complexa, mas ainda interessante para os alunos. Através de recursos multimídias, metodologias dinâmicas e da construção em conjunto de uma proposta de ensino, elas ampliam a contação de histórias.
Leia também: Dia do Professor: da regulamentação da profissão ao reconhecimento
Como usar as metodologias ativas no storytelling?
Para te explicar melhor como as metodologias ativas podem ser usadas na construção de um bom storytelling na educação, separamos 4 exemplos, com diferentes metodologias de ensino. São eles:
- Gamificação;
- Sala de aula invertida;
- Aprendizagem baseada em problemas; e
- Cultura maker.
Em cada um deles, apontaremos como se dá a construção da história e do raciocínio e quais são os impactos positivos no estudante. Confira!
1. Gamificação
A gamificação na educação é a metodologia responsável por aplicar estratégias próprias dos jogos na sala de aula. Isso representa uma mudança na maneira como são estruturadas e apresentadas as atividades para os alunos.
Os jogos são uma forma narrativa própria, baseada na construção de etapas que devem ser superadas pelos jogadores. A partir de regras bem estabelecidas e de um acordo comum entre o jogador e o jogo, é possível atravessar desafios e conquistar recompensas.
Se pensamos na estratégia de storytelling, essa é uma ótima metodologia para garantir que os alunos se mantenham motivados e interessados naquilo que estão aprendendo. Afinal, ao apresentar um conteúdo usando a gamificação, os educadores são capazes de construir trajetórias de aprendizagem mais interessantes.
Dentre os seus principais benefícios, podemos citar:
- O aumento da autonomia do aluno;
- A melhora da organização;
- O estímulo da curiosidade e do raciocínio lógico;
- O desenvolvimento da capacidade de pesquisa;
- A construção de relações cooperativas, no caso de jogos em pares ou em grupos.
2. Sala de aula invertida
A sala de aula invertida também é uma metodologia ativa que tem como objetivo descentralizar o professor no papel de ensino-aprendizagem. Ela faz com que o modelo tradicional, de aulas expositivas, seja substituído por um modelo mais autônomo, no qual parte da aprendizagem acontece em casa.
Dessa maneira, os alunos recebem os conteúdos que devem ser estudados antes da aula e, no momento de encontro da turma, são montados espaços de debate e discussão. Os estudantes podem expor suas dúvidas, levantar os temas que consideraram mais interessantes e ajudar a direcionar a aula.
Associada à técnica do storytelling, a sala de aula invertida ajuda na construção de uma turma mais interessada nos assuntos a serem estudados. Isso porque o professor pode construir, com eles, uma aula que atravesse os pontos que eles consideram principais, o que mantém o interesse alto e potencializa o engajamento.
Dentre os seus principais benefícios, estão:
- O desenvolvimento da comunicação e da escuta ativa;
- Uma maior flexibilidade para os professores e alunos;
- A construção de aulas mais tecnológicas e participativas;
- O desenvolvimento da empatia e da liderança.
3. Aprendizagem baseada em problemas
A aprendizagem baseada em problemas é uma das metodologias ativas que mais pode contar com a estratégia de storytelling. Voltada para uma aprendizagem significativa, nela os profissionais de educação devem elaborar problemas que serão, então, solucionados pelos estudantes, seja de maneira individual, seja em grupo.
Dessa maneira, a aprendizagem passa a estar intimamente relacionada à forma como os alunos aprendem sobre o seu processo de aprender. Ficou confuso? É que, para resolver os desafios e problemas propostos, eles precisam desenvolver sua autonomia, seu raciocínio lógico e seu trabalho em equipe.
Assim, estão inconscientemente desenvolvendo também a maneira como aprendem, e aprimorando essa maneira conforme a necessidade de cada situação. Os principais benefícios dessa metodologia são:
- Estímulo à autonomia;
- Desenvolvimento da capacidade de trabalhar em equipe;
- Desenvolvimento da cognição, a partir do trabalho com variáveis e dados.
E as técnicas de storytelling podem ser usadas pelo professor para criar problemas mais complexos, ou mais divertidos, e que se adaptam à realidade de cada turma ou de cada grupo de alunos.
4. Cultura maker
Por fim, a cultura maker na educação apresenta uma proposta de aprendizagem mais ativa, baseada no pensamento “faça você mesmo”. Nela, os alunos são estimulados a construir soluções para os problemas apresentados, ou montar objetos e projetos com base nas necessidades indicadas pelos educadores.
A aprendizagem na prática faz com que seja mais estimulante, para o estudante, participar das atividades em sala de aula. Além disso, sua criatividade é estimulada e sua voz, ouvida, já que ele pode sugerir projetos ou soluções, em vez de precisar seguir uma trajetória pré-estabelecida pelo professor.
Os principais benefícios da cultura maker são:
- Estimulam os estudantes a lidar com desafios;
- Desenvolve o raciocínio lógico e a criatividade;
- Melhora o engajamento e o relacionamento entre alunos.
A relação com a técnica de storytelling, neste caso, fica a cargo dos alunos: para que saibam como resolver um problema, é preciso, antes, pensar em como essa construção se dará. A elaboração de uma história — e mesmo a sua narrativa durante a solução — é uma forma de estruturar e apresentar o raciocínio.
Confira 3 exemplos de storytelling de sucesso!
Ao longo deste conteúdo, você aprendeu o que é o storytelling, quais são os seus objetivos e benefícios, onde essa técnica pode ser aplicada e como ela se relaciona com a educação superior.
Agora, é hora de conhecer alguns cases de sucesso do mercado, para entender de verdade o impacto do storytelling nas pessoas. Separamos três exemplos, são eles:
- Always: #LikeAGirl;
- Nike: O Último Jogo; e
- Dove: Não existem mães perfeitas, apenas mães reais.
Confira!
1. Always: #LikeAGirl
A campanha da Always com a hashtag Like a Girl foi lançada originalmente em 2014 e chamou a atenção do público por construir uma narrativa de superação, invertendo o sentido original e pejorativo de fazer alguma coisa “como uma menina”.
No vídeo da campanha, vemos uma diretora pedindo a atores e atrizes que façam ações simples, como “correr” e “lutar” como uma menina. A diferença — e a conexão com o público — acontece no detalhe: pessoas mais jovens não sabem a diferença entre fazer algo “como uma garota” e “como um garoto”.
É então que o comercial pergunta: “Quando fazer algo como uma garota se tornou uma ofensa?”. E eles associam essa transformação à puberdade, momento em que as meninas costumam menstruar.
2. Nike: O Último Jogo
Na propaganda “O último jogo”, a Nike transforma a realidade ao propor a substituição de jogadores reais por robôs perfeitos, capazes de acertar todos os movimentos do jogo. Os clones rapidamente ganham destaque e substituem os originais, mas a emoção que constrói o futebol vai deixando de existir.
A proposta do comercial é ressaltar um ponto que transforma o futebol em um esporte que une as massas e toca nossos corações: o risco. E, com isso, se conectar com a emoção dos jogadores.
3. Dove: Não existem mães perfeitas, apenas mães reais
Neste comercial, a Dove cria uma narrativa que amarra alguns sentimentos comuns às mães, e que criam no espectador uma sensação de cuidado e carinho em geral associada a essa figura.
O diferencial está nas imagens: se, por um lado, existe a noção de que uma mãe “suporta tudo”, a Dove subverte esse ideal mostrando que ser mãe significa também ser humana. Daí o slogan, e o impacto que ele causa no público.
E aí, gostou de saber mais sobre storytelling? Então aproveite para conhecer o Copywriting, outra técnica de escrita assertiva que pode te ajudar nos negócios!