Com frequência, ouve-se dizer que a leitura é fundamental para a vida em sociedade. E, de fato, o hábito de ler livros é comprovadamente benéfico para pessoas de todas as idades e realidades sociais. No entanto, a leitura vai muito além daquilo que fazemos por prazer ou hobby — ela é um pedaço inseparável de nós.
Uma vez que aprendemos a ler, está selado o nosso destino: tudo se torna passível de leitura, mesmo aqueles símbolos que escondem palavras desconhecidas. É impossível desaprender a ler, da mesma forma que é impossível transitar pela sociedade sem colocar em prática esse aprendizado.
Mas como a leitura realmente interfere nos nossos modos de vida? Se ela é mais que uma alternativa a outros interesses e hobbies; se ela se traduz como uma parte essencial para a manutenção social, então qual é realmente a sua importância? Para entender mais, basta continuar lendo.
Qual a importância da leitura para a sociedade?
Embora seja frequentemente entendida como uma atividade solitária, a leitura é, sempre, um diálogo. Ao lermos um texto, estabelecemos uma comunicação direta entre aquilo que já sabemos e que constrói a nossa subjetividade, e aquilo que o texto apresenta, que pode ou não ser novo para nós.
Nesse momento de contato entre um e outro lado, passamos a atribuir significado àquilo que é lido. E, para isso, lançamos mão de recursos argumentativos que nos ajudam a sustentar um determinado ponto de vista.
A leitura não é, portanto, um processo de decifrar os significados de um texto. Ela é, na verdade, um processo de reformulação contínua desses significados, conforme construímos, em paralelo, a nossa identidade. Assim, é a partir dos textos lidos que podemos construir a competência de operar criativamente, interpretando novos pontos de vista e unindo esse conhecimento ao nosso.
Esse processo de leitura e interpretação de símbolos é a maneira a partir da qual construímos a nossa subjetividade social e política. Para Paulo Freire, ler é representar a afirmação do sujeito, da sua história como produtor de linguagem e da sua singularização como intérprete do mundo que o cerca.
Isso significa que a leitura abre portas para que um indivíduo compreenda como funciona a dinâmica social, quais são os códigos linguísticos que impactam ou formulam essa dinâmica e como a realidade pode ser alterada, se necessário. A leitura se torna, sob esse ponto de vista, uma maneira de formar cidadãos conscientes e críticos, aptos a interferir diretamente na sua realidade.
Como a leitura contribuiu para o desenvolvimento de competências socioemocionais?
Na sociedade atual, as competências socioemocionais se tornaram fundamentais para o trabalho e para a vida no geral. E, se a leitura é o processo de interpretação do mundo para a construção da subjetividade de um indivíduo, então ela também tem efeitos nessa nova exigência social.
Isso porque, ao nos colocar em contato com perspectivas diferentes das nossas, a leitura atua como uma incentivadora do desenvolvimento de raciocínio lógico. Uma vez que é seu papel estabelecer o diálogo entre o que já sabemos e o que o texto nos diz, torna-se automática a argumentação de um ponto de vista.
Além disso, a leitura abre as portas da criatividade ao imprimir no indivíduo novos cenários e possibilidades, tanto no campo da fantasia quanto no campo de uma sociedade melhor, mais justa e mais igualitária. Se, como afirma Paulo Freire, o sujeito que lê se torna capaz de transformar a realidade social na qual está inserido, então a leitura é também um catalisador de mudanças sociais que, no entanto, têm berço na criatividade e na imaginação.
Por fim, é a leitura a principal responsável por desenvolver em um indivíduo o sentimento de empatia, o que fortalece a resiliência, a inteligência emocional e a capacidade de trabalhar em equipe. Os livros apresentam cenários diversos àqueles que os leem, o que amplia nossa visão de mundo e nos torna aptos a lidar com as diferenças mais facilmente.
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Quais são os benefícios da leitura?
Mencionamos, ao longo deste texto, que a leitura é a maneira pela qual podemos construir a nossa individualidade, atuar de maneira crítica na sociedade em que estamos inseridos e desenvolver habilidades e competências fundamentais para o estudo e o trabalho.
Ainda assim, os benefícios promovidos pela leitura não param por aí. De fato, o ato de ler pode ser transformador da nossa realidade e atuar diretamente na construção de um mundo melhor. E isso se torna ainda mais visível quando falamos sobre períodos ou situações em que o contato social se torna menos frequente.
Nos últimos anos, atravessamos alguns desses cenários. Um deles, mais permanente, é a criação de uma cibercultura — uma geração inteira de indivíduos cuja relação com o mundo é mediada pela internet, pelos smartphones e, mais importante, pela leitura digital. Outros são cenários de isolamento, como o que aconteceu na pandemia da Covid-19.
Abaixo, explicaremos melhor quais são os benefícios da leitura nesses cenários. Confira!
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Impactos da leitura em situações de isolamento
Imagine um leitor. Imaginou? Ele está sozinho em um quarto, em uma poltrona grande e confortável, lendo enquanto a chuva cai lá fora? Em algum lugar dessa paisagem você também incluiu um gato, ou uma xícara de café? E, mais importante: ele está sozinho?
A imagem que fazemos dos leitores é, com frequência, associada ao isolamento e ao silêncio. Ainda que ela não seja completamente verdadeira, a leitura é, de fato, uma saída para a solidão — tanto a acidental quanto a imposta. E isso se prova especialmente verdadeiro nos casos em que o contato com o “mundo lá fora” é interrompido por fatores fora do nosso controle.
Foi o caso, por exemplo, da pandemia da Covid-19, que impeliu os diversos leitores a se manterem em casa, como o resto da sociedade. Bibliotecas, clubes de leitura, livrarias: tudo estava fechado, e talvez por isso tenhamos observado um boom de bookgrams e leituras coletivas.
Mas também é o caso de indivíduos encarcerados. As prisões são um ambiente pouco propício para o exercício da imaginação e da liberdade de pensamento, mas, ainda assim, a leitura se impõe sobre esses espaços como uma alternativa ao sofrimento.
Leitura e pandemia
No contexto da pandemia da Covid-19, que teve início em 2020, o isolamento social estava associado a uma série de sentimentos negativos: medo, insegurança, ansiedade, apreensão etc. Em cenários como esse, a leitura se torna uma maneira de reestabelecer o senso de segurança e conforto.
O ato de ler pode assumir um papel terapêutico, na medida em que proporciona alívio e tranquilização de emoções. Nesse sentido, a leitura passa a oferecer benefícios ao restabelecimento da saúde porque cria no leitor motivação e troca de experiências, além de possibilitar a sensação de sentimentos positivos, como o riso, a curiosidade, o encantamento etc.
Para que funcione, porém, é necessário que o processo de leitura seja intencional. Isso porque o ato de ler precisa suprir uma necessidade — seja ela de companhia, de conforto ou de segurança. Essa intenção de leitura é o que faz com que o ganho de novas informações, mesmo em um contexto majoritariamente negativo, se torne benéfico para o leitor.
Leitura e encarceramento
A Constituição brasileira assegura aos encarcerados que mantenham o seu direito à educação gratuita e de qualidade. No entanto, o processo de aprisionamento é responsável pela diluição da noção de identidade dos indivíduos, o que impacta diretamente na sua adaptação ao novo espaço.
Para pesquisadores da área, a diminuição da noção de “quem sou eu” é comum ao ambiente carcerário graças às condições às quais são submetidos os indivíduos. No entanto, esse processo abre margem para o surgimento de uma nova personalidade, que se adapta às necessidades do contexto da prisão.
Nesse cenário, a leitura aparece como uma maneira de manter contato com o mundo exterior. Seja através de jornais e revistas, seja através das cartas recebidas pelos prisioneiros, a leitura se torna uma espécie de janela pela qual é possível alcançar a sensação de liberdade.
Isso significa que é por meio dela que os indivíduos em situação de encarceramento podem recuperar a sua identidade, o que contribui para uma melhor readaptação social no futuro e para manter o elo com as pessoas que foram antes do período da prisão.
Esperamos que este conteúdo tenha te ajudado a entender a importância da leitura! Que tal conferir também nossa seleção de livros de ficção?